É num terreno acidentado que os trabalhos aqui apresentados se situam, denunciando a implicação de um corpo, cuja presença nos é revelada apenas por indícios ou retratos incompletos, traços imprecisos e ambíguos. Fala-se de um corpo ausente, indiferente, de um corpo plano, de um fantasma.

Na série de fotografias (Screen), através de um movimento de aproximação, e numa fria economia de meios, o aspecto familiar do corpo aparece desconstruído. A ampliação de um pormenor do rosto produz um efeito de estranheza que dificulta o reconhecimento. A sensação de desconforto acentua-se quando o fragmento é adivinhado num retrato e associado a um olhar que nunca estará presente. No fundo, parecemos estar perante um lugar desconhecido e inabitado, um olhar opaco que rompe na nossa direcção, como que partindo de um ponto de fuga longínquo sem nunca se apresentar na superfície sedutora dos olhos.

O vídeo que apresento (Stillness) surge como resultado de uma tentativa de anular a presença do corpo que, ao assumir as qualidades da coisa, procura tornar-se naquilo que imita. Quase parado, mas sem conseguir evitar as pequenas oscilações, o sujeito combate e reforça simultaneamente essa impossibilidade.
Aqui, a imobilidade como possibilidade de eliminar as fronteiras que separam o corpo do que o rodeia, conferindo-lhe as qualidades de um objecto inanimado, é contrariada por deslocações e movimentos incessantes, através dos quais se cumpre uma mudança contínua, ainda que imperceptível.

Nos fotogramas amachucados o corpo não aparece, a sua participação é indiciada pelas marcas deixadas no papel, vestígios de gestos repetidos de forma mecânica, mas cujo resultado será sempre único e infinitamente variável.
Falar de performance é quase sempre falar dos registos mediante os quais tomamos conhecimento das mesmas. Aqui pretendo fazer coincidir, no mesmo objecto, acção e fotografia. Nestes trabalhos a acção e seu próprio registo encontram-se num só ponto, no momento único em que a luz incorpora e inscreve o gesto; nada acontece fora, o movimento adquire as propriedades fotossensíveis e faz-se ele mesmo fotografia. A margem de erro entre a o acto performativo e seu congelamento é aqui reduzida ao limite de um erro único pautado pela decisão racional do gesto e o carácter imprevisível do resultado.